segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Curta-metragem para Diego Luna


¡Ay qué trabajo me cuesta
Quererte como te quiero!

Por tu amor me duele el aire,
El corazón
Y el sombrero.

Federico García Lorca

O Diego é um safado de 19 anos com pinta de Ricky Martin e ar bandido de Diego Luna em Solo quiero caminar que há cinco ou seis anos me fez sonhar ser traficante de droga e de amor – e desejar morrer, matar e matar-me, sem concerto, em pose romântica de século XXI, e amar daquela maneira, sem jeito, a Victoria Abril.
No fundo, escrever poesia é ser o Gabriel do filme. 
Não cresci (resumo).
Este Diego chileno tem, no entanto, uns lábios grossos e eternamente juvenis, como um colega meu do Secundário, por quem me apaixonei católica e platonicamente (como sempre, nota de rodapé, flashback), lábios que apetece beijar em dias de céu limpo ou em noites de solidão que - essas sim - me matam sem piedade. 
Uns lábios que devem saber a café, a cappuccino, ou a tinta de um soneto de Quevedo. 
O Lorca ficaria maluco, certamente. ¡Ay qué trabajo me cuesta/Quererte como te quiero! (citação).
Apesar do encanto, este Diego Luna, às duas por três, acha-me um gringo rico e penso que o cabrãozinho me quer sacar dinheiro. Os nossos encontros são inquéritos policiais e, por fim, dois beijos na cara, roubados às duas da manhã, na cara. Já lhe disse o meu nome completo, já lhe disse que sou um escritor de viagens que ando pelo mundo cheio de jornais, blocos de notas e esferográficas (que tragédia!), e falei-lhe do bairro onde moro em Santiago, por trás do estádio do Colo Colo. 
Ele não me telefona. Acho que não lhe dei o número.  
Explico: estou fodido se continuo com a ficção do Diego.
Portanto, isto é uma curta – e acaba aqui. 

domingo, 22 de setembro de 2013

Estranheza bela, primeiras impressões


Temuco não é uma cidade bonita no sentido de ter muitos monumentos e estética de 'encher o olho', digamos assim, como o Porto ou Madrid ou Paris ou Buenos Aires, por exemplo, embora a 'Plaza de Armas' seja agradável para se estar, com um jardim simpático que nos descansa das ruas próximas, na maioria dos dias cheias de latinos que não param. 
Parece-me uma cidade, sobretudo o centro, de agitação e trabalho.
No entanto, tem a sua beleza e encanto (estranheza bela), para nós, europeus, por ser precisamente algo diferente da Europa, por sentirmos a América Latina, e a sua vida característica, e os seus músicos de rua, até um ou outro animal mais característico, um lama, do norte do Chile, de Iquique, os cavalos que os huasos - uma espécie de gaúchos deste país - montam, para dar só dois exemplos. 
A zona onde moramos é, pela sua tranquilidade e o pitoresco (para nós, também) das casas de cimento e madeira, de rés-do-chão e primeiro andar ou térreas, e pelas muitas bandeiras chilenas por estes dias de 'Fiestas Patrias' (18 de Setembro é o Dia da Independência), muito mais interessante e bonita do que o centro... e de uma boa, agradável, única, preciosa, tranquilidade!, que muita Europa perde, vai perdendo. 
No entanto, estas são apenas primeiras impressões, de um andarilho, poeta, adolescente, com pouca capacidade de atenção, vindo do barulho do Norte.

sábado, 21 de setembro de 2013

Pequeno elogio dos homens dos jornais do mundo


Em Temuco, há um senhor, que já visitou Lisboa (segundo o que apanhei do seu 'chileno' velho e modista), que circula pelos cafés com um molho de jornais e revistas debaixo do braço. 
Os clientes, falando sobre a vida passada ou futura, ou falando sozinhos pensando na morte do amor da bezerra, têm toda a liberdade para pegar, folhear, ver, virar, revirar, e escolher tudo (que gula!), pouco ou nada (que pobreza!).
Já estás a ver o meu encanto, amigo, não?
Uma cidade onde há cafés, livrarias orgulhosas do seu caos e bons jornais - e leitores e homens dos jornais - numa língua que entendo (se a amar, mesmo sem entendê-la, melhor ainda), ou, mais dia, menos dia, entenderei (ou amarei, sem entendê-la), é uma cidade onde certamente não morro e onde certamente não me mato (nem tédio e amor me matam, que Deus os tenha!).
O senhor dos jornais de Temuco, ainda por cima, senta-se e faz-me um pouco de companhia - pois as crónicas, os poetas que escrevem, o humor, e o expresso arrefecendo não me bastam para sofrer a alegria da vida.
E prometeu-me trazer os últimos suplementos literários do 'El Mercurio'! - este velhinho de papel fez agora, no dia 12 de setembro, 127 anos, digo mal, 186!, ora, nasceu em 1827.
E, afinal, bem vistas as coisas, o mundo não é perigoso cá - entre nós.
A ver se nos encontramos outra vez - entre chávenas.


Imagem encontrada aqui.